quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Somos produtos de nossas escolhas...

... e não podemos fechar os olhos para isto. Muitas vezes, ao invés de nos perguntarmos por que tal coisa está acontecendo conosco, seria mais interessante perguntar por que permitimos que isso ainda aconteça.
     Falo assim porque nós, dependentes e co-dependentes, gostamos de sermos vítimas, coitadinhos. Gostamos de transferir, grande parte das vezes, a responsabilidade de algo que acontece conosco para o companheiro, a família e/ou às pessoas mais próximas. Fiz muito isto como forma de justificar minhas fraquezas; como maneira de esconder meus medos e receios; pelo medo de assumir minhas responsabilidades. Não dá mais. Bancar o coitadinho é insistir no erro e não posso mais fazer isto.
     Tenho acompanhado um caso há alguns anos e vejo como a relutância em aceitar a condição de dependente e iniciar um tratamento tem feito da vida desta pessoa e de sua família um veradeiro inferno. Para ele, a culpa é sempre da mulher. Estou vendo que uma insanidade está prestes a ser feita por ele e ninguém pode fazer nada para impedir, apenas ele. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."
     Estou há quase três anos limpo e é tão gratificante ver o mundo sem as amarras das drogas. Em 21 de novembro de 2008 chegava em uma comunidade terapêutica para meu tratamento. Estava magro, abatido moralmente. Eu não sabia que me restava uma escolha: viver.



     Comecei a entender isto na minha primeira visita (foto acima, com meus filhos na Fazenda da Paz / dez 2008). A alegria que a presença da minha família me causou foi tão grande que chorei demais ao vê-los. Vi que nem tudo estava perdido, que poderia me recuperar (a escolha era minha). Percebi que a estrada seria longa e difícil, mas tudo estaria em minhas mãos, ou pelo menos a decisão inicial de mudar o rumo que minha vida tinha tomado. Não foi fácil e instantâneo, mas não foi impossível.
     Deixar de ser o espectador de minha vida e tomar parte de seus acontecientos; deixar de olhar para mim como coitadinho e me perceber enquanto humano com limitações e propósitos; resgatar as qualidades e perceber os defeitos. Tudo é uma questão de escolha e hoje fiz a minha: ser feliz. Tenho hoje muitos motivos para isto.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Oração

Senhor,
Eu quero ser Filho da Luz.
Eu quero levar ao mundo Tua luz.
Senhor,
Eu sei que muitas vezes eu vivi na escuridão.
O pecado foi me consumindo e eu me acostumei com as trevas.
Eu fui infiel.
Eu abandonei o amor em busca de prazeres que não me trouxeram a felicidade.
Eu erei, Senhor.
Mas hoje estou aqui Te pedindo perdão.
Hoje estou aqui abrindo as janelas e recebendo a Tua luz.
Que a Tua luz me invada, me retire o medo de viver e me faça um anunciador.

Eu quero anunciar o Teu amor, mesmo que seja no deserto.
É essa a minha missão e é por isso que estou aqui nesta oração.
Faz de mim o que quiseres.
Eu Te amo, Senhor.
Sou Teu Filho.
Sou Filho da Luz!

Amém.

(Extraída do livro "Ágape", Pe. Marcelo Rossi)

sábado, 24 de setembro de 2011

Ainda há motivos

     Faz algum tempo que não posto nada. Escrever significa muito para mim, é um ato de libertação. No entanto, sinto como se tivesse me esvaziado, como se as palavras fugissem, e, no entanto, as ideias fervilham.
     Nossa doença é algo que nos persegue por toda vida. Vez ou outra, lembranças do passado chegam e me vejo a pensar sobre tudo o que ocorreu. Já percebi que quando não estou tão bem, quer estressado, quer meio triste, elas vêm de forma mais intensa. Nestes instantes, há sempre alguns pensamentos que querem me dizer algo do tipo "vai, não fará mal; só desta vez", mas sei que não é verdade. Durante muitos anos sempre ouvi isso e foi justamente o contrário que me aconteceu. Perdi tudo, a começar pela minha honestidade e dignidade.
     Recebi um e-mail alertando para os perigos das drogas mostrando uma imagem do antes e do depois. Não foi diferente com relação a Amy Winehouse à época de sua morte. Sinceramente, falo como um dependente químico, a aparência é o de menos nisto tudo. O sofrimento que a dependência provoca em nós, em nossos familiares é tão intenso e deixa marcas tão profundas e cicatrizes difíceis de sararem que a questão da aparência é o de menos. 
     Nesses momentos percebo o quanto fui abençoado por ter ido resgatado deste inferno pessoal. Deus me restituiu tudo o que havia desprezado. Ainda percebo que minha filha não superou tudo o que ocorreu e que paira um medo de que o pesadelo volte. Isto é normal e acredito que não apenas com ela ocorra este fato. Aprendi, no meu tratamento, que não posso mudar as pessoas, e nem tenho que me preocupar com isto. Tenho que me preocupar nestas horas apenas comigo. Só por hoje, está nas minhas mãos optar pela sobriedade. Quando olho para tudo que foi reconquistado e em tão pouco tempo, vejo que ainda há motivos de se viver limpo e sóbrio. Nenhum prazer que a droga possa proporcionar supera o sofrimento que vem depois e a felicidade de ver o mundo com liberdade. Ainda há motivos...