sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Entre tropeços e acertos

Faz algum tempo que não publico no blog. Recordo-me da última entrevista de Clarice Lispector quando, ao ser chamada de escritora profissional, ela disse que não era, pois o escritor profissional tem a obrigação de escrever com certa periodicidade, enquanto ela só escrevia quando desse vontade. Assim tenho feito, até para não me tornar repetitivo para os leitores deste blog.
Em um postagem anterior, Recuperação e racaída 2, falei de um companheiro em recuperação que, mesmo preso, preferia estar ali do que voltar a uma casa de recuperação. Pois bem, ele acabou por voltar. Dia 15 de janeiro, quando fui à visita na Fazenda da Paz, ele estava lá, recém chegado e bastante destruído psicologicamente e no emocional também. Conversei com ele e, dentre outras coisas que me falou, duas me chamaram a atenção: a primeira, que estava usando droga era para morrer (também estava no tráfico) e que, quando teve uma overdose, viu a imagem de seu pai (falecido) chorando muito por vê-lo naquela situação, daí ele ter abandonado a droga que tinha e ter voltado para a comunidade terapêutica; a segunda, que tinha entendido a missão que Deus colocara em sua vida, que seu lugar era ali em uma comunidade terapêutica e por aí vai. Falei para ele que sequer tinha feito o primeiro passo de N.A., a admissão de sua impotência perante às drogas e que estava confiante que pudesse fazê-la e dar início ao seu tratamento.
Estes dias, ao me reunir em uma pizzaria com alguns companheiros de recuperação, soube que ele mais uma vez foi embora. Ele está colocando na prática o conceito de INSANIDADE, que é cometer os mesmos erros esperando obter resultados diferentes. No fundo, sabemos que os resultados não serão diferentes. Sabemos que iremos mais uma vez nos vitimarmos e vitimarmos nossa família ao retornarmos para a ativa. Os resultados desta vida são bem conhecidos: cadeia, manicômio ou morte. Não há outra possibilidade para quem entra nas drogas, é só questão de tempo. Espero que um dia ele faça sua admissão antes que o pior possa ocorrer.

4 comentários:

  1. Olá, Jorge Alberto! Muito bom vê-lo caminhando em sua recuperação.
    Gostaria de te fazer uma pergunta: você já fez o quarto passo? Como foi sua experiência? Pergunto isso porque meu esposo está fazendo, e tem sido muito doloroso, tem mexido demais com ele.
    Grande abraço.

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  2. Oi Poly,

    Eu fiz meu quarto passo. Fazer meu inventário pessoal foi muito doloroso para mim, como acredito que seja para todos nós, adictos, mas foi libertador. Poder se libertar de toda aquela carga foi algo muito bom.
    O inventário não serve apenas para nos libertarmos, mas também para termos uma dimensão do que somos, nos percebermos como uma pessoa que também tem qualidades.
    O quarto passo é muito bom quando podemos também exercer o quinto, que é a partilha do inventário com um padrinho. A troca de experiências é algo muito bom.
    Torço para que tudo dê certo.
    Um abraço.

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  3. Muito obrigada.
    Ele está em ressocialização em casa, e hoje está melhor, mas, ontem ele estava muito alterado, e só depois me contou o que estava sentindo com o seu inventário pessoal. Mágoas, ressentimentos, traumas de infância, tudo isso tem vindo a tona, e tem sido bem doloroso pra ele, mas, acredito sim que será algo libertador, assim como foi pra você.
    Quanto a partilha, será um outro passo, mas, com certeza, após encarar tudo isso, tem que se colocar pra fora, não é mesmo?
    Vai dar tudo certo, eu acredito. Ninguém falou que seria fácil, não é mesmo?!
    Muito obrigada!
    Abraços.

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  4. Olá Jose, encontrei seu blog no blog da Poly, e vejo que você é um exemplo desta luta que para muitos soa como brincadeira.
    Estou nesta luta meu camarada.
    Se voce puder por gentileza divulgar o meu blog o retorno será o mesmo, agradeço.

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