terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Só por hoje (texto do Papa João XXIII)

Hoje minha esposa me mandou por e-mail o texto que vai a seguir. Ele foi atribuido ao Papa João XXIII. Achei-o muito bom e ele traz não só uma mensagem de recuperação, mas do viver em qualidade e harmonia para todas as pessoas. Resolvi compartilhá-lo com todos. Boa reflexão.
     "Só por HOJE tratarei de viver este meu dia, sem querer resolver o problema da minha vida, todo de uma vez.
     Só por HOJE terei o máximo de cuidado com o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras; não criticarei ninguém, não pretenderei melhor ou disciplinar ninguém senão a mim.
     Só por HOJE me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste.
     Só por HOJE me adaptarei às circunstâncias, sem pretender que a circunstâncias e adaptem todas aos meus desejos.
     Só por HOJE dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me de que assim como é preciso comer para sustentar o meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida da
minha alma.
     Só por HOJE praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém.
     Só por HOJE farei uma coisa de que não gosto e, se for ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba.
     Só por HOJE farei um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em todo caso, vou fazê-lo. E me guardarei bem de duas calamidades: a pressa e a indecisão.
     Só por HOJE ficarei bem firme na fé de que a Divina Providência se ocupa de mim. Como se existisse somente eu no mundo ainda que as circunstâncias manifestem o contrário.
     Só por HOJE não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de
gozar do que é belo e não terei medo de crer na bondade.
     Durante doze horas de uma dia, posso fazer o bem, o que me desanimaria se pensasse que teria que fazê-lo durante toda a minha vida."

 (PAPA JOÃO XXIII)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Entre tropeços e acertos

Faz algum tempo que não publico no blog. Recordo-me da última entrevista de Clarice Lispector quando, ao ser chamada de escritora profissional, ela disse que não era, pois o escritor profissional tem a obrigação de escrever com certa periodicidade, enquanto ela só escrevia quando desse vontade. Assim tenho feito, até para não me tornar repetitivo para os leitores deste blog.
Em um postagem anterior, Recuperação e racaída 2, falei de um companheiro em recuperação que, mesmo preso, preferia estar ali do que voltar a uma casa de recuperação. Pois bem, ele acabou por voltar. Dia 15 de janeiro, quando fui à visita na Fazenda da Paz, ele estava lá, recém chegado e bastante destruído psicologicamente e no emocional também. Conversei com ele e, dentre outras coisas que me falou, duas me chamaram a atenção: a primeira, que estava usando droga era para morrer (também estava no tráfico) e que, quando teve uma overdose, viu a imagem de seu pai (falecido) chorando muito por vê-lo naquela situação, daí ele ter abandonado a droga que tinha e ter voltado para a comunidade terapêutica; a segunda, que tinha entendido a missão que Deus colocara em sua vida, que seu lugar era ali em uma comunidade terapêutica e por aí vai. Falei para ele que sequer tinha feito o primeiro passo de N.A., a admissão de sua impotência perante às drogas e que estava confiante que pudesse fazê-la e dar início ao seu tratamento.
Estes dias, ao me reunir em uma pizzaria com alguns companheiros de recuperação, soube que ele mais uma vez foi embora. Ele está colocando na prática o conceito de INSANIDADE, que é cometer os mesmos erros esperando obter resultados diferentes. No fundo, sabemos que os resultados não serão diferentes. Sabemos que iremos mais uma vez nos vitimarmos e vitimarmos nossa família ao retornarmos para a ativa. Os resultados desta vida são bem conhecidos: cadeia, manicômio ou morte. Não há outra possibilidade para quem entra nas drogas, é só questão de tempo. Espero que um dia ele faça sua admissão antes que o pior possa ocorrer.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Jovem em tratamento contra o Oxi faz desabafo no Jornal do Piauí

Adédio Machado conta como está conseguindo se livrar da droga que já matou jovens pelo Brasil.

Quem conhece o jovem Adédio Machado hoje não imagina o que ele já enfrentou para se livrar do Oxi, a nova droga que tem feito vítimas em vários Estados brasileiros, inclusive no Piauí. “Eu cheguei a roubar. Fui até preso. Cheguei ao fundo do poço, trocava até as roupas que eu vestia pelo óleo (Oxi)”, declarou o ex-usuário no Jornal do Piauí. O debate foi comandado por Amadeu Campos na tarde desta quinta-feira (12) e contou com a participação do coordenador da Fazenda da Paz, Célio Barbosa e do jornalista Wellington Raulino.

Fotos: Cidadeverde.com

Adédio tem 24 anos e começou a usar drogas aos 17. Conheceu primeiro a maconha, passou para o crack e encontrou o Oxi, também chamado de crack falso ou óleo. “Uma pessoa que eu conhecia, uma má influência, me mostrou o óleo. Eu me viciei rápido porque o efeito era mais forte. Eu sentia prazer naquilo. A sensação é mil e quinhentas vezes maior, coração dispara, dá uma sensação de medo, de perseguição. Se cair uma folha, você escuta”, contou.

 
Por causa do vício, o jovem começou a roubar e a vender seus objetos pessoais para conseguir as chamadas “cabeças”, nome dado à porção de Oxi. “Atinge tudo, você fica tremendo. Todo o dinheiro que eu pegava eu usava para comprar o óleo, se eu tinha R$ 300, ele ia todo nas cabeças. E o efeito passava muito rápido, era questão de cinco minutos. Daí o corpo já pede a droga de novo”.


 
Sem outra opção, a irmã de Adédio pediu que ele fizesse um tratamento. Vendo tudo que tinha perdido, o jovem resolveu pedir ajuda na Fazenda da Paz. “Eu percebi que estava na pior. Estava fazendo minha família sofrer. Então eu decidir ir à Fazenda da Paz e começar um tratamento. Estou lá há 8 meses. Não tem coisa melhor que a vida sem as drogas. O caminho realmente é procurar ajuda”, aconselha.

Tratamento e reintegração
Segundo o coordenador da Fazenda da Paz, Célio Barbosa, atualmente há 158 internos na casa de tratamento, destes 85 eram usuários de Oxi. “Essa droga veio da Amazônia, passou por vários Estados brasileiros e chegou ao Piauí. É feita à base de cocaína, cal virgem, água de bateria e combustível. E mata, tem matado muitos por aí”, alertou.

 
Célio disse que o tratamento oferecido pela Fazenda da Paz parte do reconhecimento dos valores pessoais. “Fazemos terapias, reuniões sobre os valores, os sentimentos. Trabalhamos a parte espiritual. Depois ensinamos alguma profissão para o ex-usuário, para que eles possam se reintegrar à sociedade”, explicou.
 
Durante o tratamento, o interno passa a morar na instituição e recebe orientação 24 horas por dia. Depois desse período, é devolvido para a família, mas permanece no acompanhamento por até dois anos. Falta pouco para Adédio sair da Fazenda da Paz. Nesses últimos meses, ele começará a aprender a profissão de marceneiro.
 
“Eu estou firme. A vida é bem melhor sem a droga”, finalizou Adédio.
 
Jordana Cury (Especial para o Cidadeverde.com)
 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Arrancando o matinho de meu quintal

     Nunca me esquecerei do Natal de 2008. Havia chegado há pouco tempo em uma comunidade terapêutica (21/11/2008) e tinha ocorrido recentemente a minha primeira visita. Estava abalado emocionalmente e com aquela sensação de zonzo, sem entender direito como as coisas estariam se equacionando a partir de então. No dia 24 a solidão bateu. Sentia falta da minha família. Ironicamente não era assim que percebia as coisas na minha adicção ativa, quando queria distância de meus familiares para me drogar.
     À noite daquele dia 24, deitei cedo porque não aguentava estar tão distante de minha família. Não tive ânimo para muita coisa. Fui acordado perto da meia-noite, quando vieram me chamar para a ceia. Fui rápido e não demorei muito para dormir novamente.
     Pela manhã, todos fomos chamados para uma terapia. Fomos colocados em uma área e solicitaram que tirassemos os matinhos que surgiam do chão silenciosamente. Após uns 30 minutos, pediram que parássemos e falássemos o que tínhamos pensado nesse período. Só aí entendi que estava em uma terapia e me deparei com tudo aquilo que na noite anterior tinha fugido ao dormir cedo. Recordo-me de ter falado de minhas angústias e que chorei bastante.
     De lá para cá, tenho buscado "tirar o matinho" que vai crescendo em mim. Hoje, Deus me restituiu não apenas tudo o que tinha jogado fora como me dá muito mais do que eu preciso para viver. Meu presente de Natal me foi dado quando entrei em uma comunidade terapêutica e daí ter a possibilidade de me recuperar. Minha fé, sobriedade, dignidade, amor próprio, minha família, enfim, hoje só tenho a agradecer a Deus por tantas dádivas que, só por hoje, tenho vivenciado.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Só por hoje está funcionando

      Fazia algum tempo que não postava no Blog. Também estive afastado de minha espiritualidade e de uma sala de NA. Isto não é bom. Aprendemos com a programação que só podemos manter o que temos se o ofertarmos, e é verdade. Quanto mais você ajuda alguém, na verdade você está se ajudando, pois falamos exatamente o que precisamos ouvir. No entanto, estive por algum tempo isolado quanto a isto.
      Já aprendi a duras penas que recuperação não é tempo limpo ou meter a cara no trabalho. Estive domingo agora em uma sala e pude partilhar um pouco de minhas inquietações e expectativas. Foi muito bom. Vi que minha recuperação estava estacionada, pois só o fato de estar limpo não me garante nada se eu não tiver frequentando uma sala, praticando os princípios espirituais dos doze passos de NA e estar em sintonia com meu poder superior.
      Estou me lembrando agora de uma frase do Célio Luiz Barbosa que me marcou. Ele me falou o quão rápido nós esquecemos o sofrimento que tivemos e que provocamos. É uma verdade e tenho a consciência de que este esquecimento é o primeiro passo dentro do abismo da recaída, pois aí achamos que podemos fazer tudo de novo e obtermos resultados diferentes. Não há maior insanidade do que esta.
      Posso dizer que sou uma pessoa sortuda por ser resgatado de uma situação que não desejaria a ninguém. Hoje, pouco mais de três anos limpos, vejo tudo que Deus me devolveu e só tenho a agradecer a Ele todo dia, a começar por estar vivo. Algumas coisas e pessoas ficaram no passado e que um futuro novo está se descortinando. Hoje, faço meus planos, crio minhas expectativas, estou cada vez mais crescendo como ser humano e percebo que muito há por aprender. Mas vou vivendo meu dia de cada vez pois ele é o mais importante para mim. meu filho acabou de sair do escritório e eu lhe dei um abraço e um beijo. Poxa, e pensar que um gesto tão simples demorou para acontecer e, o que para muitos pode ser um gesto banal, para mim é algo maravilhoso, pois soube valorizar minha família quando a perdi. Deus me concedeu uma dádiva em tê-la novamente. 
      Você já beijou seu filho hoje?