Ontem estive falando de recuperação para internos de uma comunidade terapêutica e focalizei muito o primeiro passo: a questão da admissão de minha impotência perante às drogas e aos meus defeitos de caráter.
Para quem acaba de chegar em uma instituição como essa, é um passo polêmico admitir que não dá mais para viver com droga e ser impotente perante ela. Quem quer realmente um tratamento tem que começar por isto ou estará fadado a apenas dar um tempo em uma instituição para, ao sair dali, voltar a usar novamente.
Custou-me muito a entender quando a literatura de NA afirma que não temos responsabilidade por nossa doença, mas por nossa recuperação. Hoje está claro. Tenho pré-disposição para desenvolver a dependência química e isto não é culpa minha. No entanto, foi de inteira responsabilidade minha o uso de drogas e o parar de usá-las também. É a mesma coisa do diabetes. Não tenho culpa de ser diabético, mas a responsabilidade acerca do tratamento é minha. Se eu quiser me entupir de doces, a culpa é minha. Da mesma forma é com as drogas: se for usar é porque eu quero. Não há mais espaço, depois que se conhece a programação de NA, para desculpas esfarrapadas para se usar drogas. Na verdade, durante anos, fui covarde e me escondi atrás de desculpas. Não tive a hombridade suficiente para assumir que usava e usava porque queria. Mentia para mim mesmo e, a ver isto hoje, percebo que muitas dores poderim ter sido evitadas se tivesse sido honesto primeiramente comigo.
Não quero aqui, com isto, parecer uma superfortaleza ou exemplo de recuperação. Sou uma pessoa comum, já disse, com problemas, defeitos e limitações. Apenas entendo melhor o que aconteceu comigo, minhas fraquezas e resolvi tomar uma postura diferente do que estava acostumado. Só por hoje, quero estar consciente das minhas atitudes e das consequencias delas na minha vida.