Tive ontem a felicidade de reencontrar bem um companheiro de tratamento que, na ocasião, abandonou-o apenas com 18 dias. Depois de recaídas e sofrimentos, ele partiu para um novo tratamento e está limpo há aproximadamente um ano e oito meses. Que bom.
Falei do meu blog para ele e recebi posteriormente um e-mail dele falando do blog e me mandando este texto para que eu o postasse. O texto é muito bom e um pouco grande, por isto, irei postá-lo por partes.
Boa Leitura.
“Non
est maior defectum quan ignoratio”
“não há maior defeito que a ignorância”.
“não há maior defeito que a ignorância”.
Frederico Burlamaqui
(fredkareka@hotmail.com)
Palavras nem de longe são capazes de demonstrar ou
descrever todos os sentimentos. Às vezes, há uma complexidade tamanha que nem
quem sente sabe dizer ao certo o que é, muito menos de mensurar a vastidão e o
alcance do sentimento. Alguns, menos acostumados a tais situações enlouquecem,
ou se entregam a uma vida sem sentido, de autodestruição. Outros passam a ser
indivíduos de extrema baixa autoestima, por pensar que são diferentes dos
demais, que são incapazes ou fracos. Há os que com boa sorte, conseguem ajuda e
a aceitando, descobrem pelo menos como lidar com esses sentimentos.
Mas há os inconformados. Aqueles que aceitam desafios
e são gratos pelo que lhes acontece, que na verdade, sorriem de tudo isso.
Aqueles que nem têm noção do tamanho do gigante que devem enfrentar, mas que
buscam sabedoria e a melhor maneira de resolver o que sentem, mesmo quando
precisam de alguém especificamente nessa jornada homérica – e essa pessoa não
quer ajudar nem ser ajudada.
O PORQUÊ DE TUDO ISSO
Todos têm problemas, dificuldades. Mas há os que têm
uma maior inabilidade de lidar com o mundo exterior a si, e muito maior quando
se trata do seu próprio interior. Um caos, uma eterna tempestade irrompe
constantemente consumindo tudo o que há de bom dentro de si mesmo, dirimindo
valores, já distorcidos, e principalmente, a esperança de que um dia tudo isso
acabe. Infelizmente, é um número assombroso de pessoas assim. Acredito,
pessoalmente, que é a maioria das pessoas. Afirmo isso porque é comum ouvir que
”o melhor é esquecer o que passou”, ou ter uma postura de “eu te perdoo, mas
não quero ver você nunca mais”, como se isso fosse resolver algo dentro de si
(não resolve). De fato, a psicologia, Freud especificamente, mostra que tudo o
que nos acontece vai pra algum lugar dentro de nós, mesmo imperativamente – não
controlamos isso. De alguma maneira, vai refletir no nosso comportamento e na
maneira que pensamos e encaramos as coisas. Quer seja através de
irritabilidade, intolerância, egoísmo, ou mesmo, de falta de amor próprio,
dentre infinitos outros.
Alguns
evitam falar de si, ou dos sentimentos guardados ou “esquecidos”, na ilusão de
que vai se resolver de alguma forma, e não percebem que isso é o mesmo que
caminhar para o precipício. Outro erro comum é o cometido pelos que até tentam
mudanças, mas erram o foco, buscando realização profissional e financeira, se
afundando em trabalho e estudos (em excesso). No campo afetivo, quando há uma
grande dor envolvida, buscam o caminho da raiva e da incompreensão, e partem
para mais um busca pela “pessoa certa”, ou de ficar sozinho, na esperança de
esquecer o que aconteceu e a pessoa causadora da mágoa desapareça dos
pensamentos.
Há
os casos mais complexos, dos que recorrem a extremos na tentativa de fugir de
“nem-sei-o-que-mesmo”, por não entender o que se sente, e encontram nas drogas
seu refúgio – e aqui peço licença para falar um pouco de mim (já que é de quem
o texto trata, ou pensou que era de você?).
Obrigada, é tão bom saber que não estou sozinha nessa luta, e que existem outras pessoas também lutando contra isso. Parabéns pelos textos estão me ajudando muito.
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