UM POUCO DE MIM
(Leia antes a parte I deste texto postada abaixo)
(Leia antes a parte I deste texto postada abaixo)
Frederico Burlamaqui
(fredkareka@hotmail.com)
Minha lembrança mais antiga é de minha cidade natal e
morávamos em um condomínio. Creio que tinha por volta de três anos de idade.
Curiosamente, não é uma boa lembrança: é medo, na verdade. Mas não detalharei
isso, com seu perdão (já falei sobre isso a outros). Tive uma infância alegre:
era uma criança inteligente e curiosa, gostava de brincar e descobrir coisas
novas, e havia momentos que gostava de ficar sozinho (é importante citar isso).
Tinha um irmão mais velho e nos dávamos bem.
Mudamos de cidade quando tinha por volta de quatro
anos de idade, pois minha mãe queria ficar perto de minha avó, sentia saudade
de sua terra-mãe e de sua família. A residência de minha avó foi nosso lar por
um tempo, porque a casa que meus pais compraram estava em reforma para nos
receber. Sempre muita gente, e talvez por isso, havia certa severidade no ambiente,
mas também a sensação de acolhimento.
Fui crescendo e conhecendo colegas vizinhos,
brincávamos muito e adorava tudo aquilo – a infância, em minha opinião, é a
fase mais gostosa da vida. Descobria cada vez mais que o mundo é grande, muito
maior do que achava. Guardo nomes de diversos amigos o que me deixa até
nostálgico, aliás, escrevendo sobre essas coisas, me sinto assim há um tempo.
Chegou a fase do colégio e mais descobertas: novos
colegas, algumas paixõezinhas (sem menospreza-las), “algumas” artes (aprontava
muito!), decepções, alegrias, enfim, nenhuma queixa de que poderia ter
aproveitado mais, acredito que foi na medida certa, com exceção das surras que
levava de minha mãe, o que me deixava absurdamente triste e com raiva.
Aos nove anos de idade, sendo bem curioso, tomei meu
primeiro gole de álcool. Foi uma sensação nova, mas passei mal, e meus pais
brigaram bastante. Hoje em dia, adiantando um pouco o raciocínio, sei que foi
também uma maneira de me vingar das surras que levava.
Na adolescência, as coisas foram mudando, quando
conheci novas companhias, o que foi “bom” por bastante tempo. Digo isso porque
eu gostava de estar com eles, mas para ter sua aprovação, bebia e depois de um
tempo, parti para outras drogas. Era pura curtição: festas, namoradas, bebidas
e outras drogas, como inalantes e maconha. Hoje, definimos isso como fase de
“namoro” com as drogas. Sou capaz de contar histórias até engraçadas dessa época.
Conheci
minha primeira namorada nessa época, meu primeiro amor, aos quinze anos. Já
consumia álcool com regularidade e maconha com certa frequência, mas ainda não
considerava parar, porque, na minha concepção, não me atrapalhava. Além disso,
conseguia convencer minha amada de não havia problema naquilo, aliás, uma característica
marcante dos dependentes químicos – a capacidade de manipular, ou de pelo menos
querer. Discorrerei em detalhes sobre isso no momento certo.
Refletindo
sobre minha adolescência para a fase adulta, vejo hoje que as drogas, incluindo
o álcool, nunca estiveram dissociadas de minha vida, depois que os conheci.
Absolutamente tudo o que fazia tinha que ter alguma ligação com esses
companheiros do passado, inclusive meus sentimentos, ações e decisões. Posso
citar diversos exemplos: se ia viajar, tinha que ser à praia, “porque praia,
cerveja e maconha, foram feitos um pro outro”; se fosse convidado pra uma
festa, era lógico que ia por que tinha bebida, com um tempinho pra “fazer a
cabeça” com um baseado; adorava uma Rave
, porque ecstasy e LSD é em enorme quantidade; se fosse meu aniversário, tinha que ser em um
sítio porque na minha família só tinha “careta”; se quem eu conhecia não
bebesse e não usasse nada, não podia ser meu amigo. Defendia categoricamente
que a maconha deveria ser legalizada no Brasil, o que inclusive, foi o tema da
redação que me pôs na Universidade. Mentia, ou seja, era desonesto com os
outros, e principalmente comigo mesmo. Fazia-me de vítima, afirmando que as
pessoas, ou melhor, o mundo estava errado a meu respeito, e sentia raiva delas
por não aceita-las nem compreende-las. Raiva, aliás, era minha amiga íntima,
mas sem separá-la de seus companheiros: a falta de aceitação, a ilusão, o
remorso, a tristeza, a inveja, a dor, o enorme vazio, a completa solidão, mesmo
cercado de pessoas. Conhecendo-me, você pode até achar que é exagero, mas é a
mais pura verdade, acredite, tive bastante tempo para aprender que era isso.
Conheci
na faculdade a pessoa que me fez acreditar em amor à primeira vista. Isso
passou a ser minha prioridade nessa época, eu tinha que tê-la para mim. Era tão
desonesto, que sinceramente, nem me ocorreu por um momento sequer, ter
consideração e tentar manter meu então atual namoro. Mas lógico, ainda queria
sair com ela às vezes, só para mantê-la sob meu controle (sempre desonesto).
Confusos
e complexos, mas não mais incompreensíveis são meus sentimentos sobre essa
época. Sem dúvida a amava, mas não sabia como lidar com isso, por mais simples
que pareça. Não incluo o amor na lista dos sentimentos a que me refiro no caput desse texto. O amor, na verdade, é
o sentimento mais simples, mas não menos forte que existe, em minha opinião. A
queria comigo por toda minha vida, de verdade, mas o conflito, hoje sei, estava
dentro de mim. Enganei, não tive aceitação muito menos sabedoria. Menti,
manipulei, traí, até mais do que se pode pensar, mas hoje sei que não foi por
minha culpa diretamente, como explicarei mais adiante.
Se
escrevesse aqui tudo o que fiz de mal não só ao grande amor de minha vida até
agora, mas a todos que me cercavam, sem dúvida daria muita coisa, mas já fiz
isso, não é minha intenção aqui relacionar danos, mas de reforçar minha atual
condição espiritual de vida. Além disso, os problemas nem são o mais
importante: é o que se faz em relação a eles. Quero, portanto, demonstrar as
causas e como as trabalhei para chegar onde estou hoje, se quiser tentar, mas
lhe previno: não é em absoluto, fácil. Nem ao menos difícil, é complexo.
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