Essa é a pergunta que muitas famílias e dependentes químicos se fazem quando termina, em regime de internação, o tratamento do dependente. Desconfianças, receios e inseguranças são normais. De um lado, a família que não sabe ao certo quem vai receber (se alguém que está em um processo de recuperação ou apenas está dando um tempo dos velhos erros); d’outro, o dependente que está cheio de expectativas e planos e que não sabe ao certo sobre como serão reestruturadas suas relações (familiares, amorosas, profissionais e sociais).
É preciso ter coragem para assumir o problema, não apenas por parte do adicto, mas também de sua família. Ambos adoecem neste processo e precisam, juntos, buscarem novas possibilidades para buscarem uma saída. Alguém que termina um tratamento tem que ter algumas coisas em mente que evitarão que ele recaia:
1. Conscientizar-se de que a dependência química é uma doença sem cura e que, portanto, ter que se manter vigilante. Esquecer de sua condição é um passo crucial para uma recaída. Frequentar um grupo de autoajuda é fundamental. Busque um desses grupos, faça algum trabalho voluntário (especialmente ajudando a instituição à qual você fez o tratamento);
2. Nunca se esquecer de Deus. A droga degenera tudo: valores, amor próprio e a fé. Ela se torna o centro da vida de um dependente. Apenas retirá-la não é suficiente. É preciso que se coloque algo maior e mais poderoso do que ela na vida do adicto para que as coisas voltem a ter sentido. Muitos dão um tempo das drogas e não buscam uma reformulação interior. Dar um tempo não é recuperação, e sim, ilusão;
3. Mudar hábitos, companhias e valores. Se estou em recuperação, tenho que evitar os conhecidos que usam drogas, a “boca de fumo” e os locais em que a droga circula ou que estejam, de alguma forma, associadas ao seu consumo. Recuperação é mudança de vida e isto implica em uma reformulação. Não se muda de vida fazendo os mesmos erros;
4. Retomar a rotina: espiritualidade, estudo, trabalho, família, etc. A ociosidade é uma grande vilã, pois acaba estimulando que o dependente volte a frequentar o grupo de usuários ao qual ele estava vinculado. Uma vida planejada não dá espaço para “imprevistos” ou “surpresas”;
5. Nunca tenha vergonha ou orgulho para pedir ajuda. Os defeitos de caráter foram cruciais para que o dependente químico chegasse ao fundo do poço. Ninguém é tão forte que não precise de ajuda e ninguém é tão fraco que não possa ajudar (a fábula do Leão e do Rato). Muitas vezes, uma palavra de apoio ou a disposição de escutar o outro são fundamentais e evitam uma recaída. Esteja pronto para ajudar e ser ajudado;
6. Não cultivar o rancor e trabalhar a paciência. As melhores e mais duradouras obras levaram muito tempo para serem feitas. Cultivar o perdão e a tolerância são dois fatores importantes. Começar por se perdoar já é bom. Perdoe-se por tudo o que você fez para você e os outros sofrerem. Entender que se é humano e apender com seus erros faz com que se dê valor ao que a droga roubou de você e ao que, após o tratamento, você está retomando.
A família precisa ter um diálogo aberto e franco com seu membro que é dependente. Fingir que está tudo bem agora não resolve nada, mascara uma realidade. Para muitos, não tocar mais no assunto é a forma encontrada para “superar o sofrimento provocado pelas drogas”. Isso não resolve. Encarar de frente o problema faz todos lembrarem o desejo de evitarem reviver o que aconteceu. Se necessário, deve ser procurada uma ajuda especializada. Todo ato de superação nunca acontece sozinho: primeiro, Deus; depois, a união da família, discutindo e enfrentando com coragem suas dificuldades e problemas.
Há vida sim após a droga. Há esperança.
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