quinta-feira, 16 de junho de 2011

Um pouco de tudo

     Vou falar um pouco de mim e, neste processo, vários fatores podem contribuir para que eu entenda melhor este processo de como eu entrei nas drogas e como se deu minha adicção.
     Fui uma criança e um jovem de classe média. Aperentemente tive tudo o que precisava no campo material, mas percebi, no início da minha juventude, um problema terrível na minha casa: a falta de diálogo.
     Na minha cabeça de 14 anos, criara-se um muro intransponível entre eu e meus pais. Era o filho mais velho. Meu irmão tinha apenas 9 anos. Enfim, não tinha com quem conversar.
     Estudava em um colégio de orientação religiosa. Na época, tinha poucos amigos e a autoestima baixa. Financeiramente estávamos vivendo momentos difíceis.
     Por esta época, andava de skate e, por meio de alguns da turma, fui apresentado às bebidas, ao cigarro e ao loló. Logo falei para minha mãe que estava fumando. Ela, na ocasião, me disse que tinha mais o que fazer ao invés de me vigiar e, como fumante, sabia que o cigarro era ruim e não me aconselhava. Só.
     Aos poucos fui aprendendo a malandragem das ruas. Algumas brigas de turma, época dos cavalos de pau, bebedeiras que varavam pelo menos dois dias e assim foi indo Aos poucos perdia o controle e nem me dava conta. Tolamente, achava que isto era autoafirmação. Aos quinze anos, deixei-me reprovar no 1º ano do ensino médio. Fui expulso da escola ao final do período letivo.
     Embora tivesse grande facilidade em aprender as coisas, não me esforçava para tanto. A maconha chegou quando tinha uns 16 anos. Associava a maconha a uma atitude meio hippie de ser. Lemas desgastados e tolos do tipo "sexo, drogas e rock roll" marcaram minha cabeça. Meus ídolos eram todos adictos e que tinham morrido quase sempre de uma overdose, como Jim Morrison e Janis Joplin.
      Tolamente, me deixei levar por ilusãoes, banalidades.
    Perdi algumas namoradas por causa das drogas. Sempre tentava conciliar o que esperava ser uma "vida normal" com drogas. Que nada. As mulheres que perdi, hoje percebo, acabaram me vendo, por conta das drogas e bebedeiras, como um perdedor, um sem futuro. Quem quer namorar um sem futuro? Mas eu não conseguia ver isto, que para mim hoje é tão óbvio.
     Aos 17 para 18 anos, veio o primeiro contato com a cocaína. Sinceramente, não senti lá essas coisas e continuei mesmo na maconha e bebidas.
     Vez ou outra me via obrigado a parar com esta vida não por mim, mas por situações e/ou pessoas. Quase sempre namoradas. Me lembro que quando comecei a namorar com minha esposa, ela colocou que namoro com drogas não dava. Tinha acabado de sair de um namoro que o namorado colocou que entre ela e a maconha, ele ficaria com a maconha. 
    Parei, por um tempo, não por mim, mas apenas para manter o namoro. Claro que a mentira de ter parado vinha à tona vez ou outra e eu, que já era um adicto e não sabia, fazia juras e juras que no íntimo sabia que não conseguiria cumprir.
     Não conseguia me manter limpo de forma consistente e duradoura. Isto me desesperava. Ao retirar as drogas, ficava um vazio enorme que eu substituia quer por trabalho, quer por estudo. Várias coisas da minha vida foram ficando de lado. Já tinha saído de casa e precisava me virar. Recebi muita ajuda de minha esposa (na época namorada) e sua família. Trabalhava manhã, tarde, noite e fins de semana. Estava iniciando em minha profissão e precisava estar consolidado. Mas, em meio a tudo isto, vez ou outra, a droga. Lembro que nesta época, eu e um conhecido, fizemos uma farra de cocaína por vários dias e, em uma noite, só, quase tive uma overdose. Foi por pouco. Nesta hora pedi a Deus que não morresse, pois mudaria de vida. Mentiras e ilusões.
     Perdi o interesse pelo meu curso superior e o deixei de lado por mais de dois anos. Perdi-o, retomei-o, perdi-o novamente. Tinha uma grande facilidade em ganhar dinheiro e mais ainda para mandá-lo para o espaço. Minha vida não tinha controle, não tinha consistência.
      No início de meu casamento, substitui as drogas por muito trabalho, mas ela vez ou outra aparecia. Por esta época, deixei a maconha de lado pela visibilidade que dava quando eu a usava. Iniciou-se a época dos comprimidos.
     Minha esposa encontrou, casualmente, algumas cartelas de comprimidos vazias. A princípio, consegui despistar, mas a mentira não perdurou muito. Mais uma vez mentiras e ilusões criadas. Apenas ilusões.

(Continua posteriormente)

2 comentários:

  1. Parabéns pelo post, nele fica claro o fato da compulsão né, da substituição da droga por alguma outra coisa, algo que é pouco discutido e que é um fato. E a sua esposa deve ser uma guerreira também. Parabéns.
    Ficarei esperando o próximo.
    Abraços.

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  2. Basicamente as mesmas histórias, né, Jorge Alberto? Só mudam os personagens. Parabéns por estar escrevendo um final feliz para a história de vocês, a cada dia!
    Só por hoje, muita força!

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