Hoje, ainda ao final da manhã, falei com meu irmão e ele me disse que dificilmente iria viajar para ver nossa irmã que mora em uma cidade próxima. Já que minha filha não vai viajar, chamei-a para ir comigo e o Lucas, meu filho, para a Caminhada do Dia Internacional de Combate às Drogas amanhã. Ela me disse que não, pois isto faria com que ela lembrasse de muitas coisas que ela não estava a fim. Fiquei meio desconfiado de sua resposta mas não falei nada. Conversando com minha esposa, à tarde, a este respeito, ela me falou o que eu suspeitava: “Jorge, ela tem vergonha de ter um pai adicto.”
Essa questão da vergonha já havia percebido antes. Quando, há algumas semanas atrás, disse-lhe que tinha gravado uma vinheta em uma emissora de televisão que está em parceria com a Fazenda da Paz na Campanha contra as drogas, percebi uma tristeza estampada em seu rosto. Na vinheta, exponho minha situação de dependente químico. Fui conversar com ela a esse respeito para preparar-lhe, pois certamente alguém poderia falar-lhe “olhe, eu vi teu pai na televisão, ele...”. Ela me disse que “tá, já costumam me zoar mesmo.” Disse-lhe que não poderia fugir de minha condição e nem me esquecer do que sou. Ela chorou, pediu que eu parasse com aquela conversa.
Realmente, ela tem vergonha de minha condição de dependente químico. Quando estava em tratamento, ela falou do que ocorria apenas para duas pessoas na escola, se não me engano para uma professora e uma colega sua. Ficava constrangida porque não sabia ao certo o que responder a indagações do tipo “cadê teu pai?” Estas são as famosas consequências de meu passado. Sei que nada do que eu fizer poderá mudar isto a curto ou médio prazo; que tenho que ter calma, paciência e aguardar que Deus e o tempo, juntamente com minhas ações, consigam restaurar a menina fantástica que tenho orgulho de dizer que é minha filha.
Jorjão, gosto de sua sinceridade, mas estou meio preocupado com a reação de sua filha. Pelo que li, é como se você não tivesse deixado as drogas. Será que não está havendo, no seu caso, uma supervalorização(desculpe, não achei palavra melhor)do poder das drogas? Convivo pouco com você, mas, para mim, você está plenamente recuperado. Vejo que o próprio título deste blogue é, de certa forma, um excesso de cuidado em relação às drogas. Não seria melhor ele ter um título mais otimista? Algo como "limpo para sempre"? Desculpe a insistência, mas peço que você veja aquele filme que lhe emprestei, "Paris Texas". Ele tem tudo a ver com a relação entre pai e filho.
ResponderExcluirUm abraço
Washington
Jorge, espero que esse sentimento seja passageiro, que com o tempo ela passe a ter orgulho, que ela seja capaz de ver que o pai é um vencedor.
ResponderExcluirSabe, durante o tempo em que estive com o meu namorado adicto, também tive vergonha de falar para os outros, eu tinha preconceito por falta de entendimento, hoje eu sei que é uma doença e vejo de outra forma, não tenho mais vergonha de dizer que namorei um dependente químico e nem de falar tudo o que passei ao lado dele.
Só tenho a lhe desejar de fato que o tempo se encarregue de mudar esse quadro.
O mais importante é o seu hoje não é mesmo?
Bom domingo para você e sua família!
Mestre Washington,
ResponderExcluirA dependência química é uma doença incurável. Por mais que tenha superado aquele momento difícil com a internação e hoje esteja há 2 anos e sete meses limpo, o dia mais importante é o de hoje, que não usei e nem me passou isso pela cabeça, como não me passa. No entanto, se eu esquecer das burradas que fiz, é um começo das mesmas estórias que já conheço e que não tenho interesse em retornar.
Minha gatinha já superou muito. Não que ela tenha vergonha do pai, mas do que aconteceu. Quando falei que ela tinha vergonha de minha condição é d'eu ter vivido uma adicção. De fato, não é nada fácil para uma criança viver emoções tão fortes como ela vivenciou e agora começa a superar. Há algo ainda a ser trabalhado, mas sei bem que o tempo será o melhor remédio para todas as mágoas e incertezas.
Obrigado pelas palavras, Giulliana. Minha filha está superando, no tempo dela, claro, tudo isso. Por este motivo, não a acordarei cedo para ir comigo à Caminhada. Deixarei que estas escolhas partam dela, com a maturidade e a segurança que só o tempo vai proporcionar-lhe.
Caro Jorge, eu também já tive vergonha, no início da minha adolescência, de dizer que era filha de um dependente químico, entretanto, com a maturidade, com certeza eu teria o maior orgulho de dizer que meu pai era um dependente químico em recuperação! Infelizmente esse não foi o meu caso. Mas, no seu caso, sugiro que você e sua esposa mostrem sempre que você é sim um dependente químico, mas, EM RECUPERAÇÃO, quando ela entender o que é isso, terá muito orgulho, tenho certeza!
ResponderExcluir